A palavra “metafísica” vem do grego meta ta physika, que significa “depois da física”. Foi usada pela primeira vez no século I d.C. por Andrônico de Rodes para se referir a um grupo de textos escritos por Aristóteles que ainda não tinham título.
Na Idade Média e na época moderna, “metafísica” começou a ser usada para descrever o estudo de coisas que estão além da natureza, sendo consideradas mais reais e valiosas do que as coisas que podemos perceber no mundo físico.
Em um sentido mais popular, “metafísica” pode significar qualquer coisa obscura e altamente teórica.
O que é metafísica?
A metafísica é uma das áreas da filosofia que investiga os princípios, as estruturas e a natureza da realidade.
Alguns dos conceitos abordados pela metafísica incluem:
- Existência e essência;
- Identidade e mudança;
- Causa e efeito;
- Substância e atributos;
- Tempo e espaço;
- Determinismo e livre arbítrio;
- Universais e particulares;
Em geral, a metafísica se preocupa com questões que vão além dos limites da experiência física e da ciência empírica.
Principais questões metafísicas
A metafísica aborda uma gama de questões sobre a realidade e nossa relação com ela. Vejamos algumas.
1. Ser e essência
Uma das questões centrais da metafísica é a investigação sobre o ser. Isso inclui indagações sobre as categorias gerais do ser e a diferença entre essência e existência.
Filósofos propuseram diversas teorias para responder estas questões. Aristóteles, por exemplo, entendia o ser como substância.
2. Aparência e realidade
Outro importante tema na metafísica é a relação entre realidade e aparência. Os metafísicos se questionam sobre se o que percebemos corresponde à realidade objetiva ou se estamos limitados às nossas percepções subjetivas.
Essa questão também levanta problemas epistemológicos sobre a natureza da verdade, a confiabilidade dos sentidos e a possibilidade de acessar uma realidade independente das nossas experiências.
3. A existência de Deus
A existência de Deus é também um dos temas mais debatidos na metafísica. Filósofos desenvolveram uma variedade de argumentos a favor e contra a existência de Deus. Entre os argumentos a favor, destacam-se:
- Argumento Cosmológico: Este argumento postula que deve haver uma causa primeira para a existência do universo, e essa causa é identificada como Deus. Filósofos como Tomás de Aquino desenvolveram versões desse argumento, sugerindo que tudo o que existe tem uma causa, e essa cadeia causal deve ser iniciada por um ser necessário, que é Deus.
- Argumento Teleológico: Este argumento afirma que a complexidade e a ordem observadas no universo exigem uma explicação, e essa explicação é melhor compreendida como resultado de um planejamento ou propósito divino.
- Argumento Ontológico: Defendido por filósofos como Anselmo e Descartes, este argumento defende que a própria ideia de Deus como um ser perfeito implica necessariamente sua existência. Em outras palavras, a perfeição de Deus inclui a existência, pois um ser que existe é mais perfeito do que um ser que não existe.
História da Metafísica
A metafísica na antiguidade
A origem da metafísica remonta aos primeiros filósofos pré-socráticos, como Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes, que buscavam entender a natureza e origem do universo.
No entanto, Parmênides é apontado como o verdadeiro inaugurador de uma reflexão metafísica por buscar entender a realidade a partir de uma investigação lógica, em vez de se basear nas evidências dos sentidos.
Com Platão e Aristóteles, a metafísica começou a se desenvolver como uma disciplina sistemática. Platão introduziu a teoria das Formas ou Ideias como realidades últimas, teoria teve grande influência na história do pensamento. Enquanto Aristóteles desenvolveu um estudo sistemático sobre o ser (ontologia).
Os neoplatônicos também foram metafísicos de grande originalidade. Plotino, por exemplo, ligou a metafísica ao misticismo e à prática do ascetismo pessoal, e seu discípulo, Porfírio, destacou ainda mais o lado místico e religioso de sua filosofia. Os neoplatônicos posteriores, como Jâmblico e Proclo, deram uma ênfase ainda mais religiosa e até mesmo ocultista ao movimento. Por meio de Boécio, o neoplatonismo influenciou fortemente a filosofia medieval.
A metafísica na Idade média
Na Idade Média, a metafísica estava intrinsecamente ligada à teologia, especialmente durante o período da escolástica, em que filósofos como Tomás de Aquino tentaram reconciliar a fé com a razão por meio de argumentos metafísicos.
A metafísica de Tomás de Aquino visou distinguir existência e essência, existência necessária e contingente e particulares e universais, usando a linguagem e grande parte da metafísica de Aristóteles.
A Isagoge de Porfírio, traduzida para o latim por Boécio no século VI, suscitou o problema dos universais, um problema metafísico que foi amplamente discutido em toda a filosofia medieval, gerando a grande controvérsia entre realismo e nominalismo.
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A Metafísica na modernidade
Na era moderna, com o fortalecimento das ciências empíricas, a metafísica passou por um período de declínio, já que muitos filósofos e cientistas consideravam as questões metafísicas como especulativas e não passíveis de verificação empírica.
O renascimento da metafísica no século XVII começa com René Descartes, conhecido por sua famosa frase “penso, logo existo”, cujo objetivo era demonstrar que nossa própria existência é nossa única certeza suprema, enquanto a existência de todas as outras coisas é duvidosa.
Spinoza, bastante influenciado por Descartes, desenvolveu uma metafísica exata, a partir de definições geométricas.
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A Metafísica na contemporaneidade
No final do século XIX, a metafísica recebeu uma série de ataques de filósofos como Bertrand Russell, Gottlob Frege e George Moore.
Os filósofos do positivismo lógico, movimento filosófico com forte influência das ciências empíricas, lançaram críticas à Metafísica, afirmando que todo discurso metafísico era completamente sem sentido.
Referência
Van Inwagen, Peter, Meghan Sullivan, and Sara Bernstein, “Metaphysics“, The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2023 Edition), Edward N. Zalta & Uri Nodelman (eds.)