Tales de Mileto

Tales de Mileto (c. 625 – 547 a.C.) foi um filósofo grego pré-socrático, astrônomo, engenheiro e matemático. Ele é considerado o fundador da Escola de Mileto e um dos sete sábios da Grécia antiga.

Ele buscou determinar racionalmente um princípio fundamental (arché) para explicar a origem e constituição da natureza física (physis).

Biografia

Tales, filho de Examias e Cleobuline, nasceu por volta do ano de 625 a.C. na cidade-estado grega de Mileto, na Jônia, situada hoje em dia na Turquia. Sua morte ocorreu em 547 a.C., aos 77 anos. Sua família possuía ascendência fenícia.[1]

Conforme o relato do historiador Heródoto, Tales de Mileto participou ativamente da política da sua cidade, dando conselhos aos jônicos. Ele foi descrito não só como político, mas também como um grande engenheiro, tendo conseguido escavar um profundo canal no rio Hális, permitindo que as águas mudassem de direção, o que possibilitou que o exército de Creso cruzasse para a outra margem.[2]

Tales fazendo o rio fluir em ambos os lados do exército lídio, Salvator Rosa
Tales fazendo o rio fluir em ambos os lados do exército lídio, por Salvator Rosa, c.1663, via Wikiart. Imagem de Domínio Público.

Viagem ao Egito e influências

Durante sua viagem ao Egito, Tales teve a oportunidade de aprender a matemática e geometria egípcia, incluindo o cálculo de distâncias e alturas com base na igualdade e semelhança de triângulos. Posteriormente, ele levou esse conhecimento de volta à Grécia.[3] Além disso, é possível que sua teoria de que a Terra flutua sobre a água também tenha influência egípcia. [4]

Busto de Tales
Busto de Tales, autor desconhecido, 1825 – Fundação Alexander Onassis, via Wikimedia Commons. Imagem de Domínio Público.

Teorema de Tales

Tales de Mileto é reconhecido como um dos primeiros matemáticos da história, tendo realizado contribuições significativas para os campos da geometria e trigonometria.[5].

O teorema de Tales é um princípio geométrico que afirma que, se duas retas são cortadas por uma transversal, os segmentos formados nas retas são proporcionais. Com este teorema, ele conseguiu medir a altura das pirâmides do Egito, observando a sombra projetada pelo sol.[6]

Previsão de um eclipse solar

Segundo Heródoto, Tales previu o eclipse solar ocorrido em 28 de maio de 585 a.C. A mudança repentina do dia para noite motivou o término da guerra entre medos e lídios.[7]

Acredita-se que Tales não estabeleceu uma data exata, mas sim aproximada para o eclipse, e que sua previsão se deu a partir do seu contato com os registros astronômicos dos babilônios. A predição do eclipse pode ter sido feita por meio de uma série de observações empíricas, e não propriamente de uma teoria astronômica mais complexa.[8]

Por outro lado, alguns estudiosos contestam totalmente a veracidade deste relato, apontando para as implicações cronológicas e historiográficas contidas na própria obra de Heródoto. “Nenhum eclipse real”, afirma Mosshammer, “atende às exigências da narrativa de Heródoto”.[9]

Descoberta da Ursa Menor

Tales de Mileto mediu a constelação Ursa Menor, sugerindo aos marinheiros de Mileto que se guiassem por ela.[10] As constelações da Ursa Menor e Ursa Maior desempenharam um papel de grande importância nas navegações daquela época.

Tales tinha um profundo interesse pelas observações astronômicas. Segundo uma anedota contada por Diógenes Laércio em Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, o filósofo se distraiu observando os astros e acabou caindo num profundo poço e, ao gritar pedindo socorro, uma mulher lhe disse:

Como pretendes, Tales, tu, que não pode sequer ver o que está à tua frente, conhecer tudo acerca do céu?

DL, I, 1, 22 – 44.
O astrólogo que caiu no poço, Fábula de Jean de La Fontaine
O astrólogo que caiu no poço, Fábula de Jean de La Fontaine, Ilustração do século XVIII, via Wikimedia Commons. Imagem de Domínio Público.

Obras

Algumas fontes antigas atribuem a Tales certas obras, como:[11]

  • Guia Náutico pelos Astros;
  • Sobre o Solstício;
  • Sobre o Equinócio;

No entanto, estudiosos modernos questionam a autenticidade de tais escritos.[12] Algumas evidências apontam para isso, como o fato de Diógenes ter afirmado que Tales nada escreveu, e ter atribuído o Guia Náutico pelos Astros a Foco de Samos.[13] Aristóteles, pelas expressões cautelosas que usou ao comentar a filosofia de Tales, parece não ter tido contato direto com alguma obra de Tales[14]

Tales por Jacques de Gheyn
Tales, por Jacques de Gheyn III, 1616, British Museum.

Principais ideias de Tales

As principais ideias de Tales são:

  • A água é a arché, o princípio de todas as coisas;
  • Todas as coisas são cheias de deuses;
  • Todas as coisas têm alma e vida;
  • A terra flutua sobre as águas;

A água como arché

De acordo com Tales de Mileto, a água é o princípio fundamental (arché) responsável pela origem de todas as coisas. Ele chegou a essa conclusão ao observar que todas as coisas dependem da umidade para sobreviver.

Além disso, as sementes, as plantas e os alimentos são compostos por umidade, enquanto tudo o que morre, seca.

Cosmologia

Tales acreditava que a terra flutuava sobre as águas, movendo-se como um navio. Os tremores de terra seriam causados pelos movimentos das águas[15]

O filósofo de Mileto também teria sido o primeiro a determinar o curso do sol de solstício a solstício, além disso, estipulou o tamanho do sol, que corresponderia à 720ª parte do círculo solar.[16]

Hilozoísmo

Tales acreditava que tudo, incluindo os seres inertes, possuíam alma e vida. Esta doutrina ficou conhecida como hilozoísmo, termo derivado do grego: hyle (matéria) e zoe (vida).

Para provar esta doutrina, ele recorreu ao exemplo do ímã que atrai o ferro pela força magnética. O movimento gerado pelo ímã provaria que todas as coisas possuem alma.[17]

Além disso, sua afirmação de que “tudo está cheio de deuses” pode estar relacionada com a afirmação de que tudo tem vida.

Quadro sinóptico

Filósofo
Tales de Mileto
Nascimentoc. 625 a.C. – Mileto
Mortec. 547 a.C. – Mileto
ObrasNada escreveu
PeríodoPré-socrático
EscolaEscola de Mileto
Principais ideiasÁgua como arché
Hilozoísmo
Influenciado porAstronomia babilônica
Geometria e matemática egípcia
InfluenciouAnaximandro
Anaxímenes

Referências

ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2006.

BORNHEIM, Gerd A. (Org.) Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1998.

BURNET, John. A aurora da filosofia grega. Trad. de Vera Ribeiro. São Paulo: Contraponto, 2006.

COPLESTON, Frederick. Historia de la filosofia, Grecia y Roma. Trad. Juan Manuel García de la Mora. México: Ariel, 1983.

DIÓGENES LAÉRTIOS (DL). Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. 2. ed. Tradução de Mário G. Kury. Brasília: Editora UnB, 2008.

EUCLIDES. Os ElementosTradução de Irineu Bicudo. São Paulo: UNESP, 2009.

HERÓDOTO, Histórias. (em inglês).

KIRK, G.S., RAVEN, J.E. e SCHOFIELD, M. Os Filósofos Pré-Socráticos: história crítica e seleção de textos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

MARÍAS, Julián. História da Filosofia. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

MOSSHAMMER, Alden A. Thales’ Eclipse. Transactions of the American Philological Association, v. 111, p. 145-155, 1981.

O’GRADY, Patricia F. Thales of Miletus: The Beginnings of Western Science and Philosophy. New York: Routledge, 2002.

SHIELDS, Christopher (editor). The Blackwell Guide to Ancient Philosophy. Blackwell Publishing ltd., 2003.

QUEREJETA, Miguel. On the Eclipse of Thales, Cycles and Probabilities. Culture and Cosmos, v. 15, p. 5-16, 2011.

Notas

  1. DL, I, 1, 22 – 44.
  2. HERÓDOTO, I, 170, 75
  3. PROCLO, Elementos de Euclides, I, p. 38: “E Tales, primeiramente tendo ido ao Egito, transportou para a Grécia essa teoria e, por um lado, descobriu muitas coisas, e, por outro lado, mostrou os princípios de muitas para os depois dele”.
  4. KIRK et al. 1983, p. 90.
  5. O’GRADY, 2002: “Cinco teoremas euclidianos foram explicitamente atribuídos a Tales. Há uma aceitação geral, mas não unânime, dessa afirmação e da exatidão das fontes”.
  6. DL, I, 1, 27.
  7. HERÓDOTO, I, 74.
  8. KIRK et al., 1983, p. 79.
  9. MOSSHAMMER, 1981, p. 151.
  10. KIRK et al., 1983, p. 81.
  11. KIRK et al., 1983, p. 83-84.
  12. KIRK afirma: “Os testemunhos não permitem uma conclusão segura, mas o que é provável é que Tales não tenha escrito um livro”.
  13. DL, I, 1, 23.
  14. Expressões como: “ao avaliar pelo que se conta”, ou “a explicação que, segundo se diz, Tales…”, demonstram que Aristóteles não tinha certeza da autenticidade das opiniões antigas atribuídas a Tales.
  15. Sêneca, Naturales quaestiones. III, 14. Disponível (em Latim) em: <https://www.thelatinlibrary.com/sen/sen.qn3.shtml>
  16. DL, I, 1, 24.
  17. ARISTÓTELES, De anima, I, 2.

Como citar este artigo

VIEIRA, Sadoque. Tales de Mileto. Filosofia do Início, 2021. Disponível em: https://filosofiadoinicio.com/tales-de-mileto/. Acesso em: 10 de Jun. de 2023.

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