Anaximandro de Mileto foi um filósofo grego pré-socrático conhecido por suas contribuições para o pensamento cosmológico. Como discípulo de Tales de Mileto, Anaximandro seguiu a tradição filosófica de buscar uma explicação racional para o mundo natural.
Sua teoria da arché, ou princípio fundamental, é considerada uma das primeiras tentativas de explicar a origem do universo sem recorrer a mitos ou deuses. Neste artigo, exploraremos as principais ideias e contribuições de Anaximandro para a filosofia.
Biografia
Vida e atividades
Anaximandro nasceu na cidade de Mileto, na Jônia, provavelmente por volta de 547 a.C. e morreu em 610 a.C.
Ele foi um filósofo, matemático, político pertencente a Escola de Mileto e mestre de outro filósofo de grande importância: Anaxímenes de Mileto.
Anaximandro era conhecido por seu profundo interesse em astronomia. A ele é creditada a criação de um globo terrestre e de um mapa-múndi. Além disso, ele teria supostamente inventado um Gnômon, um relógio solar, e com este instrumento, segundo Eusébio, Anaximandro teria observado e determinado os solstícios, as horas, as estações e os equinócios.
No entanto, o historiador Heródoto afirmou que foi com os babilônios que os gregos aprenderam a utilizar o Gnômon para fins astronômicos. Anaximandro teria, então, apenas importado este instrumento para a Grécia.
Segundo fontes antigas, Anaximandro foi o primeiro filósofo a usar propriamente o termo arché para representar o princípio originador de tudo, a substância primária.
Obra
Anaximandro escreveu uma obra que se perdeu, intitulada Sobre a Natureza. Provavelmente esta obra estava na biblioteca do Liceu, escola fundada por Aristóteles.
O nome da obra, Sobre a Natureza, era um nome genérico dado com frequência aos escritos dos pré-socráticos, visto que os filósofos deste período estavam interessados em explicar o princípio e a constituição da natureza (physis).
Desta sua obra restaram poucos fragmentos, mas de grande importância, visto que se trata de fragmentos do primeiro tratado de filosofia do ocidente escrito em prosa. A maior parte da suas ideias filosóficas são conhecidas através de citações de outros filósofos posteriores, como Aristóteles, Simplício, Aécio, etc., tornando bastante difícil reconstruir de forma exata e sistemática suas ideias.
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Filosofia
Arché
Para Anaximandro, a arché, isto é, o princípio do qual tudo provém, é o ápeiron (ἄπειρον), que em grego significa literalmente ilimitado, no sentido de algo indeterminado, infinito, indefinido, etc.
O ápeiron nunca teve início, é eterno. Este princípio está por toda parte, sustentando e governando tudo, e por ele, todas as coisas são geradas. O ápeiron não é uma substância material, sensível ou visível. Anaximandro rejeita, portanto, que a arché seja um elemento encontrado na natureza, como Tales havia proposto com a água.
O ápeiron é um princípio “anônimo”, não perceptível, de caráter não definido. Deste princípio ilimitado surgem todas as coisas, e todas as coisas retornam-lhe.
Em seus fragmentos, ele afirma:
O ápeiron (ilimitado) é eterno;
O ilimitado é imortal e indissolúvel.
Frags. 2, 3[1].
Para Anaximandro, a água não poderia ser considerada como o princípio originário (arché), pois ela mesma já é algo derivado e limitado. Apesar disso, a água vai ter sua importância dentro do pensamento de Anaximandro, principalmente na sua explicação sobre a origem da vida.
A origem das coisas e os contrários
Anaximandro não explicava a origem das coisas pela mudança dos elementos primordiais (como alguns filósofos pré-socráticos defenderiam posteriormente), mas sim pela separação dos contrários em consequência do movimento eterno.
Os contrários são, por exemplo, o quente e frio, seco e úmido, e etc. Ele considerava os contrários como uma qualidade de uma substância: o calor e o frio são “coisas”, no sentido de “substância”. Estes contrários estão em conflitos (água e fogo, por exemplo), e podem se unir ou se separar. Sobre isso, Anaximandro diz em um de seus fragmentos:
Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessidade; pois pagam umas às outras castigo e expiação pelo injustiça, conforme a determinação do tempo.
Frag. 1.
Um contrário tende, naturalmente, a destruir seu contrário. Por exemplo, quando o fogo e a água se encontram, há uma batalha até que um vença o outro.
Cosmologia e cosmogonia
Segundo Anaximandro, a Terra possui uma forma cilíndrica, e em razão da sua igualdade, permanece fixa, em repouso absoluto. A luz da lua é gerada pela luminosidade do sol, e o sol, sendo tão grande quanto à Terra, é fogo puro.
Segundo Pseudoplutarco, Anaximandro acreditava que, em razão do nascimento do cosmos, a força criadora do princípio se separou do calor e do frio, formando uma esfera deste fogo em torno do ar.
A ordem do mundo é explicada pela separação dos contrários, causada por um movimento eterno no ápeiron. Segundo Hipólito, Anaximandro teria defendido que “o movimento é eterno e com ele surgem os céus”. Além disso, ele acreditava em infinitos mundos, distantes uns dos outros.
O conceito de Deus
A concepção de Deus em Anaximandro está em harmonia com sua concepção de ápeiron, ou seja, Deus para ele é o Princípio Infinito, ilimitado, enquanto que os outros deuses são considerados mundos.
Deus, enquanto princípio indeterminado, não nasce nem perece, mas os deuses (mundos) nascem e morrem ciclicamente.
Origens da vida animal e do homem
Após defender que a ordem do mundo é consequência da separação dos contrários, Anaximandro explica a origem da vida animal recorrendo novamente aos contrários: seco e úmido e a processos evolutivos.
Para ele, os animais nasceram do úmido cobertos por uma casca espinhosa. Com o passar do tempo, estes animais subiram ao seco, romperam as suas cascas e adquiriram novas formas de vida (Aécio, V, 19, 4).
O homem, por sua vez, teria surgido no interior dos peixes, e após terem se nutrido e adquirido capacidade para se proteger, foram expelidos e jogados à terra.
Referências
BORNHEIM, Gerd A. (Org.) Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1998.
GUTHRIE, W. K. C. Historia de la filosofia griega I, los primeros presocráticos y los pitagóricos. Trad. Alberto Medina González. Madrid: Editorial Gredos, 1984.
KIRK, G.S., RAVEN, J.E. e SCHOFIELD, M. Os Filósofos Pré-Socráticos: história crítica e seleção de textos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.
MARÍAS, Julián. História da Filosofia. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
REALE, Giovanni. História da Filosofia Pagã. São Paulo: Paulus, 2007.
Notas
- Sobre os fragmentos de Anaximandro, cf. BORNHEIM, 1989. ↑
Como citar este artigo
VIEIRA, Sadoque. Anaximandro de Mileto. Filosofia do Início, 2021. Disponível em: https://filosofiadoinicio.com/anaximandro-de-mileto-apeiron/. Acesso em: 24 de Mar. de 2023.