Anaximandro de Mileto foi um astrônomo, matemático, geógrafo, filósofo grego pré-socrático, um dos membros da Escola de Mileto e mestre de Anaxímenes de Mileto.
Sua teoria da arché é considerada uma das primeiras tentativas de explicar a origem do universo sem recorrer a mitos ou deuses.
Biografia
Anaximandro, discípulo de Tales, nasceu na cidade de Mileto, na Jônia, por volta de 611 a.C. e morreu em 547 a.C.
Em seu tempo, ele era conhecido por seu interesse em astronomia, sendo-lhe atribuída a criação de um globo terrestre e um mapa-múndi. Além disso, ele teria inventado um gnômon[1], um relógio solar que utilizava para observar e determinar os solstícios, as horas, as estações e os equinócios.

Obra
Anaximandro escreveu uma obra intitulada Sobre a Natureza[2], da qual restaram poucos fragmentos.
As ideias filosóficas de Anaximandro são amplamente conhecidas por meio de citações de outros filósofos, como Aristóteles, Simplício e Aécio. Essa limitação torna desafiador reconstruir seu pensamento de maneira exata e sistemática.

O Ápeiron de Anaximandro
Para Anaximandro, a arché, isto é, o princípio do qual tudo provém, é o ápeiron (ἄπειρον), que em grego significa literalmente ilimitado, no sentido de algo indeterminado, infinito, indefinido, etc.
O ápeiron, segundo Anaximandro, é eterno e nunca teve um início. Este princípio fundamental está presente em todas as coisas, sustentando e governando o universo, e por meio dele, todas as coisas são geradas. O ápeiron é um princípio “anônimo”, não perceptível, de caráter não definido.
Deste princípio ilimitado surgem todas as coisas, e todas as coisas retornam-lhe. Anaximandro diz:
O ápeiron (ilimitado) é eterno;
O ilimitado é imortal e indissolúvel.
Frags. 2, 3[3].
Anaximandro não explicava a origem das coisas pela mudança dos elementos primordiais (como alguns filósofos pré-socráticos defenderiam posteriormente), mas sim pela separação dos contrários em consequência do movimento eterno.
A origem das coisas e os contrários

Os contrários (quente e frio, seco e úmido, etc.) estão em conflitos, podendo ser unidos ou separados. Sobre isso, Anaximandro diz em um de seus fragmentos:
Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessidade; pois pagam umas às outras castigo e expiação pela injustiça, conforme a determinação do tempo.
Frag. 1.
Na natureza, um contrário tende a destruir o outro. Por exemplo, quando o fogo e a água se encontram, há uma luta até que um prevaleça sobre o outro. É através da separação dos contrários que todas as coisas nascem.
Cosmologia e cosmogonia
Segundo Anaximandro, a Terra tem uma forma cilíndrica, e permanece fixa, em repouso absoluto.

A luz da lua é gerada pela luminosidade do sol, e o sol, sendo tão grande quanto à Terra, é fogo puro. Em razão do nascimento do cosmos, a força criadora do princípio se separou do calor e do frio, formando uma esfera deste fogo em torno do ar.
Anaximandro explica a ordem do mundo através da separação dos opostos, resultantes de um movimento eterno no ápeiron. Conforme relatado por Hipólito, Anaximandro teria afirmado que “o movimento é eterno e é dele que surgem os céus“.
Além disso, ele acreditava em infinitos mundos, distantes uns dos outros.
O conceito de Deus
A concepção de Deus em Anaximandro está em consonância com sua concepção de ápeiron, no qual Deus é o Princípio Infinito e ilimitado, enquanto outros deuses são considerados mundos.
Deus, enquanto princípio indeterminado, não nasce nem perece, mas os deuses (mundos) nascem e morrem ciclicamente.
Origens da vida animal e do homem
Anaximandro explica a origem da vida animal recorrendo à teoria dos contrários e aos processos evolutivos.
Segundo ele, os animais nasceram do úmido, cobertos por uma casca espinhosa. Com o passar do tempo, estes animais subiam ao seco, romperam suas cascas e adquiriram novas formas de vida.
O homem, por sua vez, teria surgido no interior dos peixes, e após se nutrirem e adquirido capacidade para se proteger, foram expelidos e jogados à terra.
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Quadro sinóptico
Filósofo | ![]() Anaximandro de Mileto |
Nascimento | c. 610 a.C. – Mileto |
Morte | c. 546 a.C. |
Obras | Sobre a Natureza |
Período | Pré-socrático |
Escola/doutrina | Escola Jônica |
Principais ideias | Ápeiron como arché Concepção evolutiva da vida |
Influenciado por | Tales de Mileto |
Influenciou | Anaxímenes, Pitágoras |
Referências
BORNHEIM, Gerd A. (Org.) Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1998.
GUTHRIE, W. K. C. Historia de la filosofia griega I, los primeros presocráticos y los pitagóricos. Trad. Alberto Medina González. Madrid: Editorial Gredos, 1984.
KIRK, G.S., RAVEN, J.E. e SCHOFIELD, M. Os Filósofos Pré-Socráticos: história crítica e seleção de textos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.
MARÍAS, Julián. História da Filosofia. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da Filosofia: Filosofia Pagã e Antiga. Vol. 1. São Paulo: Paulus, 2007.
Notas
- O historiador Heródoto afirmou que foi com os babilônios que os gregos aprenderam a utilizar o Gnômon para fins astronômicos. Anaximandro teria, então, apenas importado este instrumento para a Grécia ↑
- O nome da obra, Sobre a Natureza, era um nome genérico dado com frequência aos escritos dos pré-socráticos, visto que os filósofos deste período estavam interessados em explicar o princípio e a constituição da natureza (physis). ↑
- Sobre os fragmentos de Anaximandro, cf. BORNHEIM, 1989. ↑