Gregório de Níssa (330 – 395), teólogo cristão e pai da Igreja oriental, nasceu na região da Capadócia.
Ele foi um defensor fervoroso da doutrina trinitária ortodoxa de Nicéia contra os arianos e semi-arianos; se destacou com seu irmão Basílio Magno e Gregório Nazianzeno, sendo reconhecidos como Os Pais ou Padres da Capadócia.
Biografia
Gregório casou-se com Teosébia, a Diaconisa e tornou-se professor de retórica.
Em 372, Basílio, bispo de Cesareia, nomeou Gregório como bispo de Nissa. Entretanto, Gregório foi deposto em 376 por um sínodo local comandado pelo imperador Valente e pelo partido ariano, mas foi reintegrado em 378, graças a uma anistia promulgada pelo imperador Graciano.
Perto do fim da sua vida, dedicou-se ao aprofundamento da teologia mística; durante este período, de cerca de 390 até à sua morte, compôs algumas das suas obras mais importantes: Comentário ao Cântico dos Cânticos e a Vida de Moisés, e o Tratado sobre a Virgindade.

Pensamento
Para Gregório, existem dois mundos: o visível e invisível. O ser humano, naturalmente, pertence ao mundo visível devido à sua natureza corpórea, mas pertence também ao mundo invisível por possuir uma alma que atua como ponte entre os dois mundos. Por ser dotado de razão, o ser humano ocupa um lugar mais elevado no mundo visível, acima dos animais, vegetais e dos corpos inanimados. A alma humana é princípio animador do corpo, substância criada, viva e racional.
A originalidade de Gregório se encontra principalmente na profundidade e na consciência mística que ele trouxe ao abordar a questão do conhecimento do Transcendente pelo ser humano.
Muitas de suas obras, como a Vida de Moisés, podem ser compreendidas em três perspectivas distintas: Moisés simboliza a vida do autêntico crente, do filósofo cristão e do místico que busca encontrar Deus no universo.
Na sua abordagem à Trindade e na sua análise sobre a essência de Deus, Gregório mergulhou em profundidades maiores do que qualquer outro Padre oriental. O cerne de sua teologia reside na busca da perfeição histórica da humanidade, alcançada por meio da restauração da imagem divina, resgatada pela Expiação e compartilhada pela Igreja.
Em sua doutrina da Apocatástase, Gregório revela sua afinidade com Orígenes, ao mesmo tempo em que busca criar uma estrutura harmoniosa para a história da salvação. Ao longo de sua obra, podemos observar o desenvolvimento da doutrina dos sentidos espirituais ou místicos, implicando uma intuição direta da presença de Deus, e uma análise do êxtase que pavimentou o caminho para pensadores como Dionísio Areopagita, Máximo Confessor e, posteriormente, para o misticismo bizantino.
Na sua epistemologia, Gregório é essencialmente neoplatônico, e a sua exegese alegórica reflete a antropologia de Orígenes e Filo de Alexandria, bem como a filosofia eclética da Ásia Menor helenística. Mas Gregório nunca seguiu servilmente nenhum mestre. A teologia de Gregório representa uma transformação sutil do neoplatonismo em cristianismo autêntico.
Referências
GILSON, Etienne. A filosofia na idade média. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
MUSURILLO, Herbert. Gregory of Nyssa, IN: BORCHERT, Donald M. Encyclopedia of Phlilosophy.
Como citar este artigo
RIBEIRO, Bruna. Gregório de Níssa. Filosofia do Início, 2023. Disponível em: https://filosofiadoinicio.com/gregorio-de-nissa/. Acesso em: 29 de Set. de 2023.