Qualidades primárias e qualidades secundárias em Locke

A distinção entre qualidades primárias e secundárias é a distinção que alguns pensadores gregos, e mais tarde Galileu, fizeram entre o que está fisicamente presente e o que é experimentado psicologicamente. No entanto, foi o amigo e professor de Locke, Robert Boyle, que introduziu os termos qualidades primárias e qualidades secundárias, e Locke emprestou os termos dele.

O que são qualidades primárias e qualidades secundárias?

As qualidades primárias e secundárias foram definidas de duas maneiras distintas ao longo dos séculos. Uma maneira tem sido definir qualidades primárias como atributos da realidade física e qualidades secundárias como atributos da realidada subjetiva ou psicológica. Ou seja, qualidades primárias referem-se a atributos reais de objetos ou eventos físicos, mas qualidades secundárias referem-se a experiências psicológicas que não têm equivalentes no mundo físico.

Para Boyle e Locke, tanto qualidades primárias quanto secundárias se referiam a características do mundo físico; o que os distinguia era o tipo de experiência psicológica que causavam. Seguindo Boyle, Locke se referia a qualquer aspecto de um objeto físico que tivesse o poder de produzir uma ideia como uma qualidade. As qualidades primárias têm o poder de criar em nós ideias que correspondem a atributos físicos reais de objetos físicos – por exemplo, as ideias de solidez, extensão, forma, movimento ou repouso e quantidade.

Com qualidades primárias, há uma correspondência entre o que está fisicamente presente e o que é vivenciado psicologicamente. As qualidades secundárias dos objetos também têm o poder de produzir ideias, mas as ideias que produzem não correspondem a nada no mundo físico. As ideias produzidas por qualidades secundárias incluem as de cor, som, temperatura e sabor.

As qualidades primárias e secundárias produzem ideias. Com qualidades primárias, a estimulação física é substancial o suficiente para causar uma ideia que corresponda ao atributo físico que a causou. Com qualidades secundárias, no entanto, são apenas frações (partículas diminutas) de corpos físicos que nos estimulam. Essa estimulação fracionada emana do corpo físico nos estimulando, mas nosso aparato sensorial não é refinado o suficiente para notar a natureza física de tal estimulação. Em vez disso, experimentamos algo psicologicamente que não está presente (como tal) fisicamente. A diferença entre as idéias causadas pelas qualidades primárias e secundárias se resume assim à agudeza dos sentidos.

O paradoxo das bacias de Locke

O paradoxo das bacias de Locke demonstrou dramaticamente a natureza das ideias causadas por qualidades secundárias.

Suponhamos a seguinte pergunta: a temperatura é uma característica do mundo físico? Em outras palavras, não é seguro supor que os objetos do mundo físico são quentes ou frios ou algo intermediário? Vista dessa maneira, a temperatura seria uma qualidade primária.

Locke pediu para seus leitores pegarem três bacias de água: uma contendo água fria (bacia A), uma contendo água quente (bacia B) e outra contendo água morna (bacia C). Se uma pessoa colocar uma mão na bacia A e a outra na bacia B, uma mão sentirá quente e a outra fria, apoiando a afirmação de que quente e frio são propriedades da água (ou seja, que a temperatura é uma qualidade primária). Em seguida, Locke instruiu o leitor a colocar as duas mãos na bacia C, que contém a água morna. Para a mão que estava anteriormente na bacia A (água fria), a água na bacia C ficará quente; para a mão que estava anteriormente na bacia B (água quente), a água parecerá fria, mesmo que a temperatura da água na bacia C seja fisicamente a mesma para ambas as mãos.

Assim, Locke demonstrou que a experiência de quente e frio dependia da pessoa que experimentava, e a temperatura, portanto, refletia qualidades secundárias.

Para Locke, o ponto importante era que algumas de nossas experiências psicológicas refletiam o mundo físico como ele realmente era (aquelas experiências causadas por qualidades primárias) e outras não (aquelas experiências causadas por qualidades secundárias). Ele não disse, como Galileu, que a realidade subjetiva era inferior à realidade física. Para Locke, a realidade subjetiva poderia ser estudada tão objetivamente quanto a realidade física, e ele se propôs a fazer exatamente isso.

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