Pré-socráticos

Os pré-socráticos foram filósofos que, ao rejeitarem as explicações míticas, empreenderam uma busca racional e lógica para explicar a origem e constituição da natureza (physis).

O rompimento com a tradição mítica representa a passagem do mito ao Logos.

Contexto histórico

O período em que os pré-socráticos viveram é conhecido como o período arcaico da história grega antiga, que se estende aproximadamente do século VIII ao VI a.C.

Durante esse período, as cidades-estados gregas estavam se desenvolvendo e crescendo em poder e influência.

Os pré-socráticos viveram em diferentes regiões da Grécia, incluindo as colônias da Ásia Menor, a ilha de Samos, a cidade de Eleia, no sul da Itália, e a cidade de Crotona, na Magna Grécia. Essas diferentes regiões tinham suas próprias tradições culturais, e isso se refletiu nas diferentes escolas de pensamento que surgiram na época.

Contexto filosófico

Os pré-socráticos foram influenciados pelas tradições culturais mais antigas, como a cosmogonia mítica grega e os poemas de Homero (Ilíada e Odisseia) e de Hesíodo (Teogonia)[1].

No entanto, diferente da compreensão mítica e religiosa do mundo que era muito comum do mundo antigo, os primeiros pensadores gregos propuseram explicações racionais e críticas para o universo, inaugurando, assim, o que chamamos hoje de Filosofia.

Nenhuma das obras dos filósofos pré-socráticos foram preservadas. Suas ideias são conhecidas graças a escritores posteriores que preservaram alguns fragmentos. Com isso, é bastante árduo reconstituir fielmente suas ideias[2].

Linha do tempo: filosofia antiga

O que os pré-socráticos buscavam?

Os filósofos pré-socráticos buscaram determinar um elemento primordial (arché) que explicasse a origem de todas as coisas. Este elemento foi identificado, por alguns filósofos, como elementos físicos presentes em nossa natureza, como a água, o ar, o fogo, etc. Outros, propuseram conceitos mais abstratos, como o ápeiron (ilimitado, indefinido) e o número.

Escolas pré-socráticas

Muitas vezes, as teorias dos antigos filósofos ganhavam adeptos. Estes adeptos desenvolviam as teorias do seu mestre com novos argumentos e fundamentos. Desse modo, ao compartilharem ideias parecidas, os filósofos formaram “Escolas”.

As diferentes escolas de pensamento que surgiram na filosofia pré-socrática tinham suas próprias ênfases e abordagens filosóficas. Vejamos algumas delas.

Escola jônica

1. Tales de Mileto

O matemático, engenheiro e geômetra Tales de Mileto é considerado o primeiro filósofo do ocidente. Sua teoria estabelecia que a água como elemento primordial.

Filósofo pré-socrático Tales de Mileto
Tales, 1825, Fundação Alexander Onassis, via Wikimedia Commons. Imagem de Domínio Público.

2. Anaximandro de Mileto

Discípulos de Tales, Anaximandro de Mileto defendeu o ápeiron (ilimitado) como o elemento primordial.

3. Anaxímenes de Mileto

Anaxímenes de Mileto, discípulo de Anaximandro, estabeleceu o ar como arché. Através de sua condensação e rarefação o ar dava origem a todas as coisas.

4. Heráclito de Éfeso

Heráclito de Éfeso defendia que tudo estava em movimento e que o fogo era o elemento que deu origem a tudo.

5. Anaxágoras de Clazômena

Anaxágoras acreditava que vários elementos, e não apenas um, davam origem a todas as coisas, por essa razão ele é incluído também na escola pluralista, a qual Empédocles também faz parte. Ele chamou estes elementos de sementes. Além disso, o filósofo acreditava que o Nous, uma inteligência cósmica, responsável pela organização de todos os elementos.

Escola eleática

1. Parmênides de Eleia

Parmênides acreditava na imutabilidade e unidade do ser. A percepção de mudança, para ele, era devido a uma ilusão dos sentidos.

Parmênides
Parmênides, (CC BY-SA 3.0), via Wikimedia Commons.

2. Zenão de Eleia

Zenão, assim como Parmênides, negou a existência do movimento. Ele desenvolveu alguns paradoxos para demonstrar que o movimento era impossível e um absurdo. O filósofo também negava a multiplicidade das coisas.

3. Melisso de Samos

Melisso, seguindo a tese de Parmênides, defendeu que o ser é imóvel, uno, sem princípio e sem fim.

4. Xenófanes de Cólofon

O filósofo e poeta grego Xenófanes é incluído entre os membros da escola eleática, muito embora haja dúvidas da sua relação com ela.

Escola pitagórica

1. Pitágoras de Samos

O famoso matemático Pitágoras considerava os números como arché, isto é, como o princípio de todas as coisas. Dentre outras ideias, o filósofo também defendia a transmigração das almas.

Pitágoras, via Wikimedia Commons. Imagem de Domínio Público.

2. Filolau de Crotona

O pitagórico Filolau também defendia a ideia de número como causa de todas as coisas.

3. Alcmeão de Crotona

Alcmeão, médico e filósofo, desenvolveu teses sobre o conhecimento humano, defendeu a imortalidade da alma.

4. Arquitas de Tarento

Discípulo de Filolau, Arquitas foi um pitagórico e desenvolveu sua filosofia com muitos elementos da matemática.

Escola atomista

1. Leucipo

Contemporâneo de Sócrates e discípulo de Zenão, Leucipo foi o fundador da escola atomista. Sua teoria defendia que a realidade era composta por incontáveis partículas invisíveis, indestrutíveis e imutáveis que se movimentavam no vazio e se aglomeravam formando, assim, todas as coisas.

2. Demócrito

Discípulo de Leucipo, Demócrito desenvolveu ainda mais a teoria atomística do seu mestre.

Demócrito
Demócrito, Agostino Carracci, c.1598, via Wikiart. Imagem de Domínio Público.

Influência dos pré-socráticos

Os filósofos pré-socráticos exerceram uma influência enorme na filosofia posterior, na formação da cultura grega e da civilização ocidental. Suas teorias e ideias foram amplamente discutidas e desenvolvidas pelos filósofos posteriores, e continuam a influenciar o pensamento filosófico contemporâneo.

Outra contribuição importante dos pré-socráticos foi a introdução de novos conceitos e ideias na filosofia, como a teoria dos átomos, a noção de que o universo é governado por leis naturais. Essas ideias influenciaram não só a filosofia, mas também a ciência e outras áreas do conhecimento.

A teoria dos átomos proposta pela escola atomista de Leucipo e Demócrito foi precursora da teoria atômica moderna, sendo um dos pilares da física e da química. Anaximandro, por sua vez, defendeu a ideia de que os seres vivos passaram por uma evolução, uma tese semelhante à teoria da evolução de Darwin. Embora muitas dessas teorias tenham sido superadas pela ciência moderna, elas foram fundamentais para o desenvolvimento da filosofia e da ciência.

Referências

HADOT, Pierre. O que é a filosofia antiga? Tradução de Dion Davi Macedo. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

WATERFIELD, Robin. The First Philosophers: The presocratics and the sophists. Oxford University Press, 2000.

Notas

  1. HADOT, 1999, p. 28-29.
  2. WATERFIELD, 1999, p. xiii.

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