Pedro Abelardo

Pedro Abelardo (1079 – 1142) foi um renomado filósofo e teólogo que se destacou por suas contribuições à lógica, à teologia e à ética.

Desafiando as correntes estabelecidas, ele apresentou uma solução inovadora para o problema dos universais, conhecida como conceitualismo.

Biografia

Pedro Abelardo nasceu em 1079 em Le Pallet, próximo a Nantes, França. Sua formação inicial se deu por meio do estudo das disciplinas que compõe o Trivium: gramática, retórica e dialética. Foi aluno de grandes mestres como Roscelino de Compiègne e Guilherme de Champeaux, com quem Abelardo possuía certas divergências sobre o problema dos universais.

Em 1104, com apenas vinte e cinco anos, Abelardo decidiu criar sua própria escola de lógica. Ele lecionou em alguns centros escolares como Laon, Paris e Melun.

Em 1113, já era considerado um exímio professor de lógica, adquirindo fama e prestígio entre seus alunos. Neste mesmo ano, ele iniciou seus estudos de teologia com Anselmo de Laon.

De 1114 a 1118 Abelardo ocupou a cátedra da escola de Notre-Dame, núcleo de uma universidade livre na França

Heloísa e Abelardo, por Robert Bateman
Heloísa e Abelardo, por Robert Bateman, via Wikiart. Domínio Público.

Condenações por heresia

Pedro Abelardo sofreu duas condenações devido a suas teses contidas em suas obras teológicas: a primeira pelo Concílio de Soissons em 1121, a pedido de Roscellino de Compiegne que acusou de heresia sabeliana as teses abelardianas sobre a trindade; e a segunda no concílio de Sens em 1140, onde Abelardo foi acusado de dezenove heresias listadas por Bernardo de Claraval.

Abelardo negou todas as acusações de heresia, mas o papa as confirmou. Doente, ele passou seus dois últimos anos de vida na grande abadia de Cluny.

Pedro Abelardo e Heloísa

Pedro Abelardo residia na casa de Fulbert, um cônego de Notre Dame, quando conheceu Heloísa, sua talentosa e inteligente sobrinha. Encorajado por Fulbert, Abelardo assumiu a responsabilidade de ser tutor particular de Heloísa para incentivar seus interesses intelectuais. A partir desse relacionamento profissional, Abelardo e Heloísa logo desenvolveram uma relação amorosa.

Depois de algum tempo, a relação amorosa entre Abelardo e Heloísa foi descoberta por Fulbert, que ficou furioso com a situação. Posteriormente, ele se reconciliou com Fulbert, pedindo desculpas e prometendo se casar com Heloísa, desde que o casamento fosse mantido em segredo. Eles se casaram e tiveram um filho chamado Petrus Astralabius.

Para manter o casamento em segredo, Abelardo e Heloísa se encontravam raramente, mas a notícia acabou se espalhando. Para protegê-la da possível reação furiosa de seu tio, Abelardo decidiu levar Heloísa para o convento de Argenteuil, onde ela se vestiu como uma freira. Fulbert deduziu que Abelardo havia abandonado Heloísa no convento, descumprindo sua promessa de casamento.

Em 1117, Fulbert e seus parentes conspiraram contra Abelardo. Um grupo de homens invadiu o quarto onde ele estava e o castrou. Esse ato foi considerado ilegal e os dois homens responsáveis pelo ataque foram punidos severamente. Além disso, Fulbert sofreu uma punição temporária e teve seus bens confiscados. Depois de ter sido castrado, Abelardo se tornou monge de St. Denis.

Obras

Abelardo faleceu em 1142 e, apesar de sua conturbada vida, escreveu várias obras, algumas das quais podem ser organizadas da seguinte forma:

  • Lógica: Dialectica, Logica Nostrorum, Logica Ingredientibvus;
  • Teologia: Theologia summi boni,Theologia Christiana, Theologia Scholarium, Sic et Non;
  • Ética: Ethica ou Scito Te ipsum, Collationes ou Dialogus inter philosophum, Iudaeum et Christianum;
  • Autobiográfica: Historia Calamitatum, Epistolae.

Ainda é possível inserir outras obras nessa organização que considera, sobretudo, o conteúdo. Mas é possível também proceder a uma organização segundo o estilo literário, citando-se, portanto, os tratados, os comentários, as cartas, os hinos, os cânticos, as poesias e as regras monásticas.

Conceitualismo de Pedro Abelardo

O conceitualismo é a teoria filosófica proposta por Abelardo ao problema dos universais, tema que gerou extensos debates entre os pensadores da Idade Média.

Segundo Pedro Abelardo, os universais não são entidades metafísicas que subsistem em um mundo inteligível (posição do realismo platônico), nem palavras vazias, flatus vocis (posição do nominalismo). Os universais existem, mas em nossa mente como nomes (palavras significativas). Abelardo desloca o problema dos universais do campo metafísico para o linguístico (doctrina sermonum).

Pelo processo de abstração, o intelecto analisa e separa características comuns compartilhadas por indivíduos de uma espécie. Ao captar a característica distintivas em cada espécie, o intelecto emprega um nome, expresso em palavras, conferindo universalidade. O intelecto, portanto, não capta uma essência metafísica das coisas, mas seu status communis. Desse modo, não conhecemos a realidade em si, mas nossos conceitos que expressam fragmentos da realidade.

Ética de Pedro Abelardo

Pedro Abelardo desenvolveu uma ética conhecida como “Ética da Intenção”. Segundo essa perspectiva, as ações humanas são neutras e indiferentes. Apenas a intenção do agente determina se a ação é boa ou má. Por exemplo, se alguém faz uma obra de caridade visando receber elogios, essa pessoa age de maneira imoral.

Alguém que é forçado a realizar uma ação má não comete pecado se sua intenção não era realizar tal ação. O pecado só se origina com o consentimento à ação praticada.

Quadro Sinóptico

Filósofo
Pedro Abelardo
Nascimento – Morte1079 – 1142
ObrasSic et Non, Ethica or Scito Te Ipsum, Dialogus inter Philosophum, Judaeum et Christianum, Historia Calamitatum, entre outras
PeríodoEscolástica
Escola/doutrinasConceitualismo
Principais ideiasUniversal como sermo
Influenciado porAristóteles, Platão, Boécio, Porfírio
InfluenciouJoão de Salisbúria, Roberto de Melun, Guilherme de Ockham, Tomás de Aquino

Referências

DIAS, Cléber Eduardo dos Santos. O problema da universalização em alguns textos lógicos de Pedro Abelardo. 2002. 137 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2002.

MARENBON, John, The philosophy of Peter Abelard. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. Vol. 2. São Paulo: Paulus, 2005.

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