Com a recuperação do conhecimento clássico, graças ao Renascimento, surgiu uma preocupação que havia ocupado os céticos gregos e romanos: com tantas pretensões de verdade, há alguma forma válida de distingui-las? Os céticos responderam negativamente, e vemos indícios de ceticismo nas obras de Francesco Petrarca, Pico della Mirandola e especialmente Erasmo de Roterdã. Lutero demonstrou ceticismo, pelo menos em relação à filosofia aristotélica e às práticas religiosas que se desenvolveram desde a época de Agostinho.
É na obra de Michel de Montaigne, no entanto, que encontramos o ceticismo extremo que havia sido apresentado anteriormente por Pirro de Élida. Em uma série de ensaios influentes, Montaigne questionou a própria possibilidade do conhecimento absoluto, verdadeiro. Como Erasmo, ele argumentou que as teologias católica e protestante eram igualmente indefensáveis em bases racionais e que a única base justificável para uma convicção religiosa era a fé.
Quem foi Michel de Montaigne?
Michel de Montaigne (1533 – 1592) foi um filósofo e ensaísta francês, que ficou conhecido como o Sócrates francês. É lembrado por historiadores da filosofia por reviver o antigo ceticismo grego, mas igualmente importante por inventar uma nova forma de escrita filosófica.
Durante as guerras religiosas entre católicos e protestantes na França, ele foi amigo e conselheiro de líderes de ambos os lados, incluindo o líder protestante Henrique de Navarra, que se converteu ao catolicismo e se tornou o rei Henrique IV. Montaigne aconselhou a tolerância geral para todos os crentes, uma visão promulgada pelo novo rei no Édito de Nantes (1598).
Os Ensaios
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As experiências literárias inconclusivas, mas bem-humoradas, que proliferam através das três edições dos seus Essais (Ensaios), sua principal obra literária, procuram fazer da inconstância sistemática, até mesmo da inconsistência, uma virtude: “a incerteza de meu julgamento é tão equilibrada”, escreveu ele, “que eu me submeteria com prazer à decisão do acaso e dos dados”.
Nesta obra, ele desenvolveu vários temas da literatura cética e estoica da antiguidade e, em sua maneira digressiva única, apresentou a primeira declaração completa nos tempos modernos do ceticismo pirrônico e do relativismo cultural.
Em particular, ele apresentou e modernizou os antigos argumentos céticos sobre a falta de confiabilidade das informações obtidas pelos sentidos ou pela razão, sobre a incapacidade dos seres humanos de encontrar um critério satisfatório de conhecimento e sobre a relatividade das opiniões morais. Sua defesa do ceticismo e do relativismo foi acompanhada de um apelo para aceitar a religião com base apenas na fé.
O ceticismo de Michel de Montaigne
Em nítido contraste com a maioria dos humanistas renascentistas anteriores, Michel de Montaigne não glorificava a racionalidade humana, nem acreditava que os humanos fossem superiores a outros animais, e nisto ele estava de acordo com Erasmo.
Ele argumentou que foi a racionalidade humana que causou a maioria dos problemas humanos, como as Guerras Santas, e que, como os animais não humanos são desprovidos de razão, eles são superiores aos humanos.
Ele analisou as doutrinas filosóficas mais famosas, apontou suas contradições, e mostrou que elas estão abertas a múltiplas interpretações. Isto é bastante semelhante ao que o filósofo francês Jacques Derrida (1930- 2004) fez, muitos anos mais tarde.
O Ceticismo de Montaigne estimulou uma série de tentativas para refutá-lo. Por exemplo, tanto Francis Bacon quanto René Descartes responderam às dúvidas de Montaigne a respeito do conhecimento humano criando sistemas filosóficos que eles acreditavam serem impermeáveis a tais dúvidas.
Sobre o conhecimento científico
Michel de Montaigne rejeitou a ciência como meio de obter conhecimento confiável porque a “verdade” científica está em constante fluxo. Ele até foi além dos céticos gregos e romanos ao negar que as sensações simples podem atuar como guias razoáveis para a vida.
As sensações, disse ele, são muitas vezes ilusórias e, mesmo que não fossem, são influenciadas por nossas condições corporais e histórias pessoais. Deve ficar claro que Montaigne não compartilhava do otimismo expresso pelos primeiros humanistas do Renascimento em relação ao potencial humano para fazer uma diferença positiva no mundo.
Características do Renascimento
Havia muitos outros humanistas renascentistas. Alguns manifestaram o poder do indivíduo na arte (Leonardo da Vinci), alguns na política (Maquiavel), alguns na educação (Juan Luis Vives) e alguns na literatura (William Shakespeare). A ênfase era sempre a mesma: o indivíduo.
As pessoas eram vistas como tendo a capacidade de mudar as coisas para melhor, em vez de simplesmente aceitar o mundo como era ou esperar que ele se tornasse melhor. Embora os humanistas da Renascença não tenham acrescentado nada de novo à filosofia ou à psicologia, a crença de que os indivíduos poderiam agir sobre o mundo para melhorá-lo foi propícia ao desenvolvimento da ciência. Durante o Renascimento, a arte, a literatura e a arquitetura se beneficiaram, mas a era da ciência ainda estava no futuro.
Como citar este artigo
VIEIRA, Sadoque. Michel de Montaigne. Filosofia do Início, 2022. Disponível em: https://filosofiadoinicio.com/michel-de-montaigne/. Acesso em: 29 de Set. de 2023.