Immanuel Kant foi um filósofo alemão que teve um impacto significativo na história da filosofia ocidental.
Ele é amplamente conhecido por suas contribuições em áreas como a epistemologia, ética, metafísica e estética.
Biografia
Immanuel Kant (1724-1804) nasceu em 22 de abril em Königsberg, Prússia. Ele foi o quarto de nove filhos de um pobre fabricante. Curiosamente, ele nunca viajou mais de 40 milhas de sua terra natal nos 80 anos de sua vida.
Kant levava uma vida monótona: nenhuma mudança, nenhuma viagem, nenhuma busca pelo incomum, nenhum interesse fora de sua sala de estudos e da universidade. A vida de Kant foi uma vida de pensamento. Ele era mais pontual e mais preciso do que os relógios da cidade de Königsberg. Seus hábitos eram firmes e imutáveis. Os transeuntes em Königsberg regulavam seus relógios sempre que o viam em seu passeio diário.
Kant foi educado na Universidade de Königsberg e ensinou lá até os 73 anos, quando renunciou porque foi solicitado a parar de incluir suas opiniões sobre religião em suas palestras. Ele se tornou tão famoso em sua vida que estudantes de filosofia vinham de toda a Europa para assistir às suas palestras.
Kant morreu em 12 de fevereiro de 1804. Suas mais notáveis obras Crítica da Razão Pura (1781) e Crítica da Razão Prática (1788) deram o tom da filosofia e da psicologia racionalistas alemãs por gerações.

O despertar do sono dogmático
Kant começou como discípulo de Leibniz, mas a leitura da filosofia de Hume fez com que ele despertasse de seu “sono dogmático” e tentasse resgatar a filosofia do ceticismo que Hume havia gerado em relação a ela.
Hume havia argumentado que todas as conclusões que chegávamos sobre qualquer coisa eram baseadas na experiência subjetiva porque essa era a única coisa que encontramos diretamente. Segundo Hume, todas as afirmações sobre a natureza do mundo físico ou sobre a moral derivavam de impressões, ideias e sentimentos que despertavam, bem como da forma como eram organizadas pelas leis da associação.
Mesmo a causalidade, que era tão importante para muitos filósofos e cientistas, foi reduzida a um hábito da mente na filosofia de Hume. Por exemplo, mesmo que B sempre siga A e o intervalo entre os dois seja sempre o mesmo, nunca podemos concluir que A causa B porque não há como verificar uma relação causal real entre os dois eventos. Para Hume, a filosofia racional, a ciência física e a filosofia moral foram todas reduzidas à psicologia subjetiva. Portanto, nada poderia ser conhecido com certeza porque todo conhecimento era baseado na interpretação da experiência subjetiva.
As categorias do pensamento
Kant começou a provar que Hume estava errado, demonstrando que algumas verdades eram certas e não se baseavam apenas na experiência subjetiva.
Kant se concentrou na análise de Hume sobre o conceito de causalidade. Ele concordou com Hume que esse conceito não corresponde a nada na experiência. Em outras palavras, nada em nossa experiência prova que uma coisa causa outra. Mas se a noção de causalidade não vem da experiência, de onde ela vem?
O filósofo de Königsberg argumentou que os próprios elementos necessários para pensar em termos de uma relação causal não podem ser derivados da experiência e, portanto, devem existir a priori, ou seja, independentemente da experiência. Kant não negou a importância dos dados sensoriais, mas pensou que a mente deve acrescentar algo a esses dados antes que o conhecimento possa ser alcançado; algo fornecido pelas categorias a priori (inatas) de pensamento.
De acordo com Kant, o que experimentamos subjetivamente foi modificado pelos conceitos puros da mente. Ele incluiu o seguinte em sua lista de conceitos puros a priori, ou categorias de pensamento:
- unidade;
- totalidade;
- tempo;
- espaço;
- causa e efeito;
- realidade;
- quantidade;
- qualidade;
- negação;
- possibilidade-impossibilidade;
- existência-inexistência;
Sem a influência das categorias, nunca poderíamos fazer afirmações como aquelas que começam com a palavra tudo, porque nunca experimentamos tudo. De acordo com Kant, o fato de estarmos dispostos a generalizar várias experiências particulares apenas especifica as condições sob as quais empregamos a categoria inata de totalidade, porque a palavra “tudo” nunca pode ser baseada na experiência. Dessa forma, ele mostrou que, embora os empiristas estivessem corretos ao enfatizar a importância da experiência, uma análise mais aprofundada da própria experiência a que os empiristas se referiam revelava as operações de uma mente ativa.
Para Kant, uma mente sem conceitos não teria capacidade de pensar; igualmente, uma mente armada de conceitos, mas sem dados sensoriais aos quais eles pudessem ser aplicados, não teria nada em que pensar.
Causas da experiência mental
Kant concordou com Hume que nunca experimentamos o mundo físico diretamente e, portanto, nunca podemos ter um conhecimento certo dele. No entanto, para Hume, nossas cognições consistem apenas em impressões sensoriais, idéias e combinações delas organizadas pelas leis da associação ou pela imaginação. Para Kant, havia muito mais.
Kant acreditava que nossas impressões sensoriais são sempre estruturadas pelas categorias do pensamento, e nossa experiência fenomenológica é, portanto, o resultado da interação entre as sensações e as categorias do pensamento. Essa interação é inevitável. Mesmo quando os cientistas físicos acreditam que estão descrevendo o mundo físico, na verdade estão descrevendo a mente humana.
Coisa-em-si
Para Kant, a mente prescrevia as leis da natureza. Nesse sentido, ele foi ainda mais revolucionário do que Copérnico porque, pois colocou a mente no centro do universo. Na verdade, nossa mente, de acordo com Kant, cria o universo, pelo menos como o experimentamos.
Kant chamou os objetos que constituem a realidade física de “coisas-em-si” ou númenos; o ser humano é incapaz de conhecer a coisa-em-si. Só podemos conhecer as aparências (fenômenos) que são reguladas e modificadas pelas categorias do pensamento.
Consciente da radicalidade de suas afirmações, o próprio Kant disse que elas representavam uma “revolução copernicana” na filosofia.
Percepção do Tempo
Até mesmo o conceito de tempo é adicionado à informação sensorial pela mente. No nível sensorial, experimentamos uma série de eventos separados, como a imagem fornecida por um cavalo andando na rua. Vemos o cavalo em um ponto e depois em outro e depois em outro e assim por diante.
Simplesmente olhando para as sensações isoladas, não há razão para concluir que uma sensação ocorreu antes ou depois da outra. No entanto, é exatamente isso que concluímos; e porque não há nada nas próprias sensações que sugira o conceito de tempo, o conceito deve existir a priori. Da mesma forma, não há razão – pelo menos nenhuma razão baseada na experiência – para que uma ideia que reflita uma experiência infantil seja percebida como acontecendo há muito tempo.
Todas as noções de tempo como “há muito tempo”, “recentemente”, “ontem”, “há poucos momentos”, e assim por diante, não podem vir da experiência; assim, eles devem ser fornecidos pela categoria a priori de tempo.
Tudo o que há na memória são idéias que podem variar apenas em intensidade ou vivacidade; é a mente que sobrepõe a essas experiências um sentido de tempo. Assim, de uma maneira que lembra Agostinho, Kant concluiu que a experiência do tempo só poderia ser entendida como uma criação da mente.
Kant indicou que a descrição de causalidade de Hume como correlação percebida dependia do conceito de tempo. Ou seja, de acordo com Hume, desenvolvemos o hábito de esperar que um evento siga outro se eles estiverem tipicamente correlacionados. No entanto, sem a noção de antes e depois (ou seja, de tempo), a análise de Hume não teria sentido. Assim, de acordo com Kant, a análise de causalidade de Hume assumiu pelo menos uma categoria inata (a priori) de pensamento.
Percepção do Espaço
Kant também acreditava que nossa experiência do espaço era fornecida por uma categoria inata de pensamento. Ele concordou com Hume que nunca experimentamos o mundo físico diretamente. Mas para a maioria, se não todos, os humanos, o mundo físico parece estar estabelecido diante de nós e existir independentemente de nós. Em outras palavras, não experimentamos simplesmente sensações como elas existem na retina ou no cérebro. Experimentamos uma exibição de sensações que parecem refletir o mundo físico. As sensações variam em tamanho, distância e intensidade e parecem estar distribuídas no espaço, não em nossas retinas ou cérebros.
Claramente, disse Kant, tal arranjo espacial projetado não é fornecido apenas por impressões sensoriais. As sensações são todas internas; isto é, elas existem apenas na mente. Por que, então, experimentamos objetos distribuídos no espaço como externos à mente e ao corpo? Mais uma vez, sua resposta foi que a experiência do espaço, como a do tempo, foi fornecida por uma categoria de pensamento a priori.
De acordo com Kant, as categorias inatas de tempo e espaço são básicas porque fornecem o contexto para todos os fenômenos mentais, incluindo ,como vimos, a causalidade.
Deve-se enfatizar que Kant não propôs ideias inatas específicas, como Descartes havia feito. Em vez disso, ele propôs categorias inatas de pensamento que organizavam toda experiência sensorial. Assim, tanto Descartes quanto o filósofo de Königsberg eram nativistas, mas suas marcas de nativismo diferiam significativamente.
O imperativo categórico
Kant também tentou resgatar a filosofia moral daquilo a que os empiristas a haviam reduzido: o utilitarismo.
Para ele, não bastava dizer que certas experiências são boas e outras não. Ele se questionou que regra ou princípio estava sendo aplicado a esses sentimentos que os tornavam desejáveis ou indesejáveis. Ele chamou o princípio racional que rege ou deve reger o comportamento moral de imperativo categórico.
O imperativo categórico diz: “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar–se, através da tua vontade, uma lei universal.
Kant deu como exemplo a máxima “mentir sob certas circunstâncias é justificado”. Se tal máxima fosse elevada a uma lei moral universal, o resultado seria a desconfiança generalizada e a desorganização social. Por outro lado, se a máxima “diga sempre a verdade” se tornasse uma lei moral universal, a confiança e a harmonia sociais seriam facilitadas.
Segundo Kant, se todos tomassem suas decisões morais de acordo com o imperativo categórico, o resultado seria uma comunidade de membros livres e iguais. É claro que ele percebeu que estava descrevendo um ideal que só podia ser aproximado. Ele também percebeu que não estava acrescentando nada de novo à filosofia moral. Seu imperativo categórico era semelhante aos preceitos morais mais antigos, como a regra de ouro: “Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você”.
Enquanto a análise do comportamento moral dos empiristas enfatizava o hedonismo, a de Kant se baseava em um princípio racional e na crença no livre-arbítrio. Para ele, a ideia de responsabilidade moral não tinha sentido a menos que a racionalidade e o livre arbítrio fossem assumidos. Temos aqui um exemplo claro da distinção entre as razões e as causas do comportamento. Para os empiristas, o comportamento (moral ou não) é causado por sentimentos de prazer e dor (hedonismo). Para ele, há uma razão para agir moralmente.
Como citar este artigo
VIEIRA, Sadoque. Immanuel Kant. Filosofia do Início, 2022. Disponível em: https://filosofiadoinicio.com/immanuel-kant/. Acesso em: 29 de Set. de 2023.