O que é a ideologia da competência?

De acordo com Marilena Chauí é importante “mostrar que a ideologia é um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política”.

Homem, mundo e sociedade

A clássica frase de Aristóteles de que o homem é um animal político permanece atual. O homem precisa se organizar social e politicamente para sobreviver e alcançar seus objetivos de vida como pessoa dotada de valores e direitos.

Cada indivíduo nasce em um mundo dado, isto é, em mundo já construído culturalmente através de um processo histórico, fruto das complexas relações dos homens com a natureza.

E, a princípio, o homem tende a encarar a realidade em que vive como um dado natural, isto é, como algo que não pode ser questionado, sem possibilidades de mudanças, ainda que essa realidade seja prejudicial a ele. Basta vermos como, cada vez mais, as pessoas ao nosso redor perderam a esperança de mudanças substanciais em nossa sociedade. Defender mudanças estruturais na sociedade é motivo de risos.

Mas cabe ao homem compreender a origem das relações sociais, pois a história é a maneira de como determinados homens, em determinadas condições, criam e transformam a natureza social, econômica e política.

O que é ideologia?

Ao longo da história, o conceito de ideologia adquiriu diversos sentidos, até mesmo contraditórios, talvez seja essa a razão pela qual o termo hoje em dia é banalizado por alguns que desconsideram a riqueza deste conceito.

Em sociedade é que os homens constroem suas ideias, valores, religião, etc. No entanto, essas ideias escondem dos homens a real origem das relações sociais com o intuito de manter eles submetidos ao poder econômico e político vigente, esse ocultamento da realidade é o que chamamos de ideologia.

Ideologia da competência

Em decorrência dos avanços da tecnologia e da ciência à serviço das ideologias burguesas, encontramos a chamada ideologia da competência. Nela, encontramos uma distinção entre os que possuem a ciência e os que não possuem, ou seja, a distinção entre competentes e incompetentes.

As consequências dessa nova ideologia é, novamente, esconder a realidade e efetuar a exclusão dos chamados “incompetentes”, que seria a maior parte da sociedade, para assim vigorar a dominação por parte daqueles que detém o prestigiado conhecimento científico e tecnológico.

Tal ideologia se alastra para as questões mais particulares da vida humana, como simples tarefas cotidianas e até mesmo para se ter sucesso no amor! É corrente vermos em programas televisivos especialistas nas mais variadas áreas julgando o modo mais adequado para isso ou aquilo.

Não se trata, no entanto, de se desconsiderar toda e qualquer opinião de especialistas, mas sim evitar a submissão que tal ideologia impõe.

Ideologia da competência no mundo acadêmico

Chauí no texto Ideologia da competência destaca ainda que tal forma de ideologia causa aquela busca insaciável pelo diploma universitário. Diferente de tempos passados onde a finalidade de entrar na universidade era para se fazer pesquisas ou seguir a carreira de professor.

O diploma em mão alimenta ainda mais os status de “competente”, promovendo uma suposta autoridade hierárquica dos cargos e funções.

A importância da consciência crítica

A consciência exerce papel fundamental na apropriação da realidade pelo homem e é dela, claramente, que se produz o saber e a cultura.

É pela consciência que o homem se vê distinto do seu mundo, percebendo-se como um sujeito transformador, capaz de agir e de pensar, e não como um mero objeto destinado a obedecer às mudanças do seu ambiente.

No entanto, poderíamos falar de graus de consciência: da consciência ingênua à crítica.

A consciência ingênua é acarretada pelas condições na qual o homem se encontra. Se o acesso à cultura e ao conhecimento lhe é limitado, tem-se como consequência uma limitação no conhecimento. E quanto mais preso e submisso ao seu meio, quanto mais limitado for suas condições materiais, consequentemente menos possibilidade ele terá de desenvolver uma consciência crítica.

A educação, por isso, é fundamental também para que o homem manifeste sua consciência crítica.