O problema ético surge acentuadamente no século V a.C., no chamado período clássico da Filosofia.
Para os gregos, a ética englobava o homem enquanto cidadão da pólis, portanto, ela estava ligada estritamente com a política. Diferente de hoje, em que cada vez mais a ética se volta para os direitos individuais.
É preciso destacar, desde já, que a ética antiga grega não é uniforme, possui variações conceituais. No entanto, podemos destacar algumas características da ética grega, como a valorização da virtude e da sabedoria, a definição de felicidade e o domínio racional sobre as paixões e desejos.
Vejamos neste artigo, resumidamente, os principais filósofos que trataram sobre essa questão.
A ética grega antiga
A ética grega antiga está voltada, em sua maior parte, para a questão da essência humana: o que é o homem, afinal? No que consiste a felicidade? Onde encontrá-la?
Os filósofos gregos acreditavam que ao definir adequadamente a essência do homem, se poderia, a partir daí, apresentar as respostas para as grandes questões éticas.
A ética grega antiga gira em torno dos seguintes conceitos filosóficos:
- Alma (psiqué): a alma é o centro da ética antiga grega. A ética não nos traz nenhum benefício físico como saúde ou beleza, sua finalidade é trazer benefício à alma.
- Virtude (areté): em grego, tem o sentido de excelência. Se aplica tanto às pessoas quanto aos objetos, por exemplo, a virtude (excelência) de uma faca é cortar bem; a de um construtor é construir bem. As virtudes morais mais comuns entre os gregos são: coragem, justiça, piedade, moderação, etc.
- Felicidade (eudaimonia): é o fim último do homem, aquilo para o qual todo homem tende. Os filósofos gregos buscaram definir o que é e como alcançar a felicidade. Importante ressaltar que felicidade entre os gregos não se refere aquele sentimento agradável e temporário; a eudaimonia deve ser entendida mais como um modo de ser que aperfeiçoa a natureza humana.
Os sofistas
Para os sofistas, não existiam regras ou verdades válidas universalmente, consequentemente, não há uma ética absoluta que determine o bem e o mal universalmente. Portanto, a ética dos sofistas era subjetivista e relativista.
Sócrates
Sócrates foi o primeiro filósofo a colocar o homem no centro das reflexões filosóficas. Seus antecessores, conhecidos como filósofos da physis, concentraram suas reflexões sobre a origem e o princípio, arché, do cosmos.
Ele ia nos lugares públicos da Grécia antiga debater com os cidadãos sobre a justiça, a virtude, o bem, etc. Seu principal método filosófico, a maiêutica, era o diálogo baseado em perguntas e respostas.
Sócrates defendeu uma tese contrária à dos sofistas. Para ele há um conhecimento que é universalmente válido, derivado do conhecimento da essência humana, pela qual podemos fundamentar uma moral universal. O que nos difere essencialmente dos outros animais é a nossa razão, somos seres dotados de alma racional, logo, é na razão que as normas éticas devem se fundamentar.
Para Sócrates, a alma humana se torna perfeita através da ciência e do conhecimento. Para ele o conhecimento é a principal virtude humana, que nos conduz à conduta ética. Com o aperfeiçoamento da nossa razão, conseguimos controlar as paixões, emoções e instintos, ou seja, temos autodomínio.
O vício, que é o contrário da virtude, é a ignorância do bem e do mal. Ele afirmava que ninguém consegue realizar o mal voluntariamente. Se alguém conhece aquilo que é bom, fará exatamente o que é bom. Todo erro moral decorre da ignorância.
Para Sócrates, portanto, o conhecimento basta para se alcançar a felicidade.
Platão
Platão seguiu o mesmo caminho do seu mestre Sócrates propondo uma ética racionalista, dando ênfase na separação corpo e alma.
Platão acreditava que a sabedoria é a virtude mais básica, e através dela poder-se-ia unificar todas as outras virtudes. Ele, assim como Sócrates, identificava a sabedoria com a virtude e o vício com a ignorância. Alcançar o bem está relacionado ao “compreender bem”.
Platão defendia que o corpo era sede das paixões e dos desejos, e isso poderia desviar o homem do caminho para o bem.
Por essa razão, ele defendeu a necessidade de um afastamento do mundo material para se alcançar a ideia de bem. No entanto, o ser humano sozinho não conseguiria alcançar o caminho do bem, ele necessita da sociedade, isto é, da pólis.
Para Platão, somente o filósofo consegue atingir o mais alto nível de sabedoria, por isso é seu dever ter a virtude da justiça e governar a cidade. Aos outros membros da pólis com os soldados e os trabalhadores comuns é exigida a virtude da temperança, moderação, etc.
Na sua obra A República, podemos observar no mito da caverna que somente o sábio pode se libertar das amarras que lhe obrigavam a observar somente as sombras, e ao se libertar, pôde contemplar o sol, que simboliza a ideia do Bem.
Aristóteles
Aristóteles desenvolveu também uma ética racionalista. Na ética aristotélica encontramos as noções de:
- a felicidade;
- a virtude;
- meio-termo ou justo meio;
- a justiça;
Em suas investigações éticas, Aristóteles determinou qual seria o fim último do homem, que segundo ele, seria a felicidade. Todos os homens buscam a felicidade, mas alguns acreditam encontrá-la na riqueza, no prazer ou na honra. Aristóteles discorda totalmente dessa visão. Mas o que é a felicidade para Aristóteles?
Segundo Aristóteles, a felicidade consiste na vida contemplativa, isto é, no aperfeiçoamento da nossa razão. A nossa essência é ser racional, portanto, o caminho para a felicidade consiste no desenvolvimento das virtudes intelectuais.
Para Aristóteles, a virtude é um hábito adquirido através da repetição e esforço de um indivíduo.
Para Aristóteles, o indivíduo bom é aquele que, em suas ações, não pensa somente em si, mas guiará suas ações de modo a beneficiar os outros.
A justiça para Aristóteles é dar a cada um aquilo que lhe é devido, nem mais, nem menos, ou seja, aqui também se aplica a noção de meio-termo. É preciso, segundo Aristóteles, haver uma proporção entre a recompensa e o mérito.
O estagirita é defensor da ética do meio-termo, do equilíbrio entre dois extremos (deficiência e excesso), por exemplo, a coragem é uma virtude que está entre a covardia (falta) e a temeridade (excesso).
O pensamento ético de Aristóteles está ligado também à vida política, já que o ser humano é um ser social, ele necessita viver em sociedade para ser feliz e alcançar a perfeição de sua natureza.
Hedonismo
Segundo a concepção ética hedonista, o bem e a felicidade são encontrados no prazer.
No entanto, para os hedonistas, não se trata de qualquer tipo de prazer. Os prazeres do corpo, por exemplo, são compreendidos como causas de sofrimento e ansiedade.
Epicuro de Samos afirmava ser necessário evitar o prazer material e desejar os prazeres espirituais, como, por exemplo, na sabedoria, ou o prazer de uma boa amizade.
Estoicismo
A ética estoica se opõe ao epicurismo ao afirmar que os prazeres são causas de muitos males. Para o estoicismo, os indivíduos deveriam evitar as paixões, pois elas só provocam sofrimento.
Os estoicos acreditavam na doutrina do fatalismo, segundo a qual deveríamos aceitar nosso destino, pois tudo que acontece é em decorrência da ordem do Universo. A felicidade consistiria na capacidade de se tornar insensível diante do sofrimento e da dor do nosso destino.
A razão humana, segundo os estoicos, deveria dominar nossos instintos pela vontade. Por essa razão, eles falavam que a virtude do sábio é viver de acordo com sua razão, sua natureza, e aceitar passivamente o destino e a dor.
A ética do estoicismo é baseada na busca da paz interior e no autocontrole pessoal, fora do agitado ambiente da vida política.
Os conceitos éticos fundamentais do estoicismo são:
- a apatia (apatheia), sendo um estado de espírito em que o indivíduo se sente livre de todo sofrimento ou perturbação emocional;
- o amor ao destino (amor fati): os filósofos estoicos acreditavam que tudo fazia parte de um plano maior da razão universal;
- ataraxia: a imperturbabilidade da alma;
Epicurismo
A ética epicurista, que é muitas vezes confundida com o hedonismo, mas que possui diferenças, é caracterizada pela fuga do sofrimento, da dor, e em busca do domínio próprio, da tranquilidade de espírito (ataraxia) e do prazer espiritual.
Como citar este artigo
VIEIRA, Sadoque. Ética grega antiga, um resumo. Filosofia do Início, 2021. Disponível em: https://filosofiadoinicio.com/etica-grega-antiga/. Acesso em: 20 de Mar. de 2023.