A república de Platão

“Toda a filosofia ocidental não passa de notas de rodapé às páginas de Platão” – Whitehead

A República de Platão

A República é o segundo diálogo mais extenso de Platão, que foi interpretada como diálogo político onde encontra-se a utopia platônica, ou seja, a idealização de um projeto político.

A política abrange uma gama de temas complexos que se misturam ao longo do diálogo platônico.

A construção do diálogo se dá pelo interlocutor Sócrates, como uma narrativa indireta, onde Sócrates narra o que havia acontecido com ele.

Ele descreve seu dia anterior, de quando ele havia descido ao Pireu ao encontro com a deusa Bendis, a deusa Artêmis. Antes de se retirar das festividades, ele recebe um convite para a casa de Céfalo, um estrangeiro bem estabelecido em Atenas, a partir daí, eles iniciam um diálogo sobre suas conquistas e objetivos. Um dos pontos do diálogo é sobre o que determinou os seus sucessos.

Umas das questões debatidas foi sobre a que se deve o mérito da vida justa, no que consiste a justiça, seria ela uma síntese de todas as virtudes? O fio condutor da República é a ideia de Justiça; busca-se a definição desse conceito que começa a ser desenvolvido no diálogo.

O que é a Justiça?

Céfalo define que “a justiça é dar a cada um o que lhe pertence”. De início, Sócrates aceita essa definição , porém, ele a questiona e começa a refutá-la no sentido de que, às vezes, pode não ser justo devolver algo que pode fazer mal a outra pessoa, e, nesse caso, pode se tornar uma problemática ampla e insatisfatória. Céfalo vê dificuldade diante dessa refutação e se retira.

Em seguida o filho de Céfalo chamado Polemarco apresenta a segunda definição de justiça: “fazer bem aos amigos e mal aos inimigos”, Sócrates rebate com a ideia de que fazer o mal jamais seria compatível com a ideia de justiça, pois justiça é sempre uma ideia positiva.

Trasímaco, o sofista, que irritado diz que “a justiça é a conveniência do mais forte”, se referindo a justiça como uma produção que não se relaciona com o bem em si, mas como uma utilidade que o mais forte faz valer.

Sócrates destaca que se a justiça for a do mais forte, então todos nós deveríamos comer um boi por dia. Sócrates sofre críticas e é considerado, segundo algumas traduções da República, um “nojento”.

Após isso, Trasímaco põe em foco uma segunda ideia que cita a justiça com a máxima conveniência com ser injusto e parecer justo, pois a vida de quem é injusto é melhor de quem é sempre justo, e no fim das contas, diz Trasímaco, todos só querem a utilidade; por exemplo, o médico que cuida de um doente, apenas quer receber a recompensa por seu trabalho, ele não se preocupa tanto assim com a saúde do seu paciente. Sócrates refuta dizendo que cada arte tem uma finalidade própria e o bem é a realização das devidas finalidades.

A cidade ideal

O livro 3 e 4 buscam a reforma ideal para a cidade para poder definir a justiça. O livro 4 dá a primeira definição como, a harmonização das ambas partes onde cada uma cumpre com a sua função, e prestam suas tarefas de acordo com a necessidade de todos para não haver uma desigualdade social e injustiça.

O anel de Giges

Glauco cita o primeiro mito da República que é o Anel de Giges, para demonstrar que somos coagidos por nossos medos, citando que se todos nós tivéssemos o poder de Giges teríamos agido da mesma forma que ele. Sócrates diz que é preciso “abrir a mente” para definir os conceitos e depois entender a justiça num plano mais amplo, isto é, no plano da Cidade.

Com a dificuldade de definição da justiça se encerra o primeiro livro de Sócrates. E começa o segundo livro com dois novos personagens. Um deles é Glauco que provoca fazendo uma apologia da injustiça e diz que os injustos são bem mais sucedidos e colocar um segundo definição onde diz que nós por natureza não somos justos por agir conforme nossas utilidades e conveniências

O plano da cidade

Sócrates começa o Plano da Cidade em busca da definição mais ampla de justiça, onde é dividida em três categorias. A primeira classe é a dos artesãos e comerciantes, a segunda é dos guerreiros e a terceira que é a dos guardiões.

Um dos pontos mais importantes da cidade é a educação que é dividida em dois pilares: a música e a ginástica. Logo começa a crítica a poesia onde ela não pode ser a base da cidade por critério dos deuses e é necessário reformular adequadamente.

É citado uma certa divisão na alma do cidadão, que tem uma parte racional, outra parte apetitiva e a parte impetuosa. A justiça na alma se dá também pela harmonização das partes preservando a razão cumprindo a sua função de comando sobre todas as outras.

No livro 5 entram em pauta as três grandes dificuldades na harmonização da cidade ideal que serão tratadas com as três ondas.

  • A primeira é sobre a comunhão de bens;
  • a segunda é capacidade e igual entre os homens e as mulheres;
  • a terceira é a uma das teses de Sócrates que diz “a cidade não será justa enquanto os reis não forem filósofos”;

Nos livros 6 e 7 entra a tese de uma digressão filosófica que vai tratar do saber do filósofo. O destaque são os três símiles de Platão:

  1. da linha;
  2. do sol;
  3. da alegoria da caverna;

É preciso contemplar as coisas com a realidade e não a imagem, Sócrates cita a condição a que estamos sujeitos. Podemos nos libertar e ver as coisas como realmente são iluminadas pelo sol, assim se dá o conhecimento pela ideia do bem, nosso intelecto é capaz de contemplar as ideias e adquirir um critério para distinguir imagem da realidade.

O livro 8 faz uma tipologia das formas de governo, a cidade vai se degenerar que é uma característica do mundo sensível segundo Platão.

O livro 9 cita a psicologia do tirano, ele é dominado pelas suas paixões e faz as coisas que bem entende. Sócrates começa a pesquisa sobre os desejos e cita a vida boa com uma mescla de reflexão e prazer.

Enfim, a República se encerra com o grande Mito de Er. Er era um soldado que havia dado como morto e antes de ser cremado acorda e diz o destino das almas, ele diz que “a virtude não tem senhor a responsabilidade é de quem escolhe e Deus é isento de culpa”. O primado da vida boa é a virtude e a justiça só é justa se a virtude for preservada.

Como citar este artigo

VIEIRA, Sadoque. A república de Platão. Filosofia do Início, 2021. Disponível em: https://filosofiadoinicio.com/a-republica-de-platao-resumo/. Acesso em: 20 de Mar. de 2023.

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