Ceticismo

Ceticismo é uma doutrina que, duvidando da capacidade dos sentidos e da razão de fornecer o conhecimento da natureza das coisas, defende a suspensão do juízo. Os filósofos céticos atacavam todas as filosofias que eram dogmáticas, isto é, que afirmavam ter descoberto a verdade.

Não parece haver nenhuma maneira, disseram eles, de penetrar além das “aparências” para o conhecimento de objetos externos. A percepção sensorial dá dados contraditórios e não há critério na própria sensação para distinguir as impressões verdadeiras das falsas. Tampouco existe qualquer critério de julgamento correto, e uma tentativa de encontrar um deve levar a uma regressão infinita. Assim, devemos reter nosso julgamento.

A suspensão do juízo (Epoché)

Os céticos acreditavam que os argumentos a favor e contra qualquer doutrina filosófica eram igualmente convincentes. Como todas as verdades parecem ambíguas, eles defendiam a suspensão do julgamento, em grego: epoché.

Os filósofos céticos, observaram que poderiam evitar a frustração de estar errado simplesmente não acreditando em nada. Ao abster-se de fazer julgamentos sobre coisas que não podiam ser verdadeiramente compreendidas, os céticos buscavam uma vida de “quietude”, “tranquilidade” ou “imperturbabilidade”. Os dogmáticos, diziam eles, vivem uma vida de frustrações.

O guia de vida dos céticos

Se a “verdade” não era o guia de vida dos céticos, o que era, então?

Os filósofos do ceticismo defendiam dois guias básicos para se viver:

  • Aparências: por aparências, os pensadores do ceticismo entendiam como as simples sensações e sentimentos.
  • Convenções: as convenções, por sua vez, eram as tradições, leis e costumes da sociedade.

Os céticos reconheciam, por exemplo, a existência de coisas que tinham gosto doce ou amargo, mas a essência de “doçura” ou “amargo” estava além de sua compreensão e, portanto, de sua preocupação.

Eles reconheciam que várias ações traziam prazer ou dor, mas os conceitos de bondade ou maldade moral estavam além de seu alcance. Em geral, as aparências (sensações e emoções básicas) eram aceitáveis ​​como guias para a vida, mas os julgamentos ou interpretações das aparências não eram. Sua disposição de viver de acordo com as convenções sociais era uma extensão de sua filosofia de senso comum.

Ceticismo: quando surgiu?

Pirro de Élida (360-270 a.C.) é considerado o fundador do ceticismo. No entanto, não existem escritos de Pirro, e a maior parte do que se sabe de suas ideias vem de seu discípulo Sexto Empírico, que escreveu Esboços Pirronianos no século III d.C. Para Pirro, a filosofia era uma arte prática cujo objetivo era o desapego e a paz de espírito (ataraxia). Esse objetivo não poderia ser alcançado a menos que a busca inevitavelmente frustrante pela verdade fosse abandonada.

Pirro foi o filósofo que fundou o ceticismo
Pirro, considerado o pai do ceticismo.

Alguns céticos, por exemplo Arcesilau (315 a.C – 240 a.C), concluíram que, uma vez que a certeza não pode ser obtida, devemos nos contentar com a probabilidade, e Carnéades sugeriu que a coerência de crenças era uma medida de confiabilidade, que quanto mais sistemático o corpo de crenças de alguém, mais razão havia para confiança nele.

Sexto Empírico, que era médico e cético, via o dogmatismo como uma forma de doença que precisava ser curada. Algumas formas de dogmatismo eram “doenças severas” e necessitavam de tratamento poderoso (refutação rigorosa), e outras eram menos severas e podiam ser tratadas com remédios mais brandos (com argumentos menos contundentes).

Os lógicos antiaristotélicos e antiescolásticos do Renascimento prepararam o caminho para os céticos mais radicais do século XVI, cujo representante mais ilustre foi Michel de Montaigne.

O principal alvo de ataques dos céticos era o dogmatismo. Para eles, um dogmático era qualquer um que afirmasse ter chegado a uma verdade indiscutível.

Os filósofos céticos não eram dogmáticos em suas crenças, no entanto, diziam: “É assim que as coisas nos parecem ou é assim que as coisas me parecem”. Eles não estavam afirmando ou negando qualquer crença; eles estavam apenas alegando que desconheciam quaisquer critérios confiáveis para distinguir entre várias alegações de verdade.

Eles também sustentavam “que ninguém poderia conhecer absolutamente nada; e com louvável coerência eles passaram a negar que eles mesmos conheciam este fato angustiante”.

Quais são os tipos de ceticismos?

Os dois principais tipos de ceticismo são:

  1. Moderado: que geralmente questiona os métodos de investigação;
  2. Radical: que afirma que o ser humano não pode conhecer absolutamente nada;

A dúvida sobre os métodos pode ser radical, com base no fato de que não há uma maneira infalível de obter conhecimento e que todos os métodos falharam em algum momento. Mas, mais comumente, o ceticismo sobre os métodos é moderado e deprecia a confiabilidade de uma fonte reconhecida de conhecimento.

Argumentos céticos têm sido usados ​​para negar que podemos obter conhecimento de quaisquer questões de fato empírico, do mundo externo dos objetos materiais, das mentes dos outros, do passado, do futuro, da natureza como um todo, de valores e de quaisquer objetos de especulação religiosa ou metafísica que estejam além da experiência sensorial.

O cético pode admitir que os objetos exteriores existem, mas negar que possamos saber mais do que isso sobre eles. A posição de Kant sobre as coisas-em-si é cética nesse sentido, assim como a do ceticismo indutivo sobre as leis da natureza. 

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